Com contentamento no tom ele dizia que eu tinha vocação para abraço, inclinação para a alegria e riso frouxo de delírio e não deve ser inverdade, caso contrário ele não se chamaria meu pai.
Viver as vezes me corta, há dias que cada movimento faz vazar o coração e como não perdê-lo quando escorre grosso? Noutros os incabíveis de acontecer cuidam das precariedades em mim. Escrever é um abraço no distante, um jeito de costurar os tempos. Acho que ainda não aprendi a ser tranquila; só ESTAR é uma labuta. Vertigens do íntimo, me botam no eixo - abismo-me de viver.
Sofrendo me dispo do bom senso ausente, vou me deixando, encontrando e recolhendo o caminho, no jeito de cada cor; e não é que eu seja teimosa, tratasse apenas de birutisse convicta mesmo; falo deslocadas palavras e bebo o silêncio, antes que eu me misture com o mundo e as letras me machuquem. Tem partes de mim que ainda não nasceram, por isso sofro de curas para tardias saudades, é que não sou capaz de tocar em sonhos amanhecidos. Minhas misérias são frutos de asas feridas, prendas do meu desatino. Minha palavra agora é a atravessadeira do estar - sopro da existência, deslocando o corpo no espaço nu.
Uns chamam de carência, outros de insalubridade, os mais generosos de Dani, mas confesso: sabe o que é? acho que ando sofrendo de meninices, apaixonamento pelo mundo. Agora, não abraçar é só impossibilidade de solo erodido, jamais distanciamento.
Ontem me contaram que o mais profundo da minha alegria se anuncia na ponta do dente - no sorriso nascente, como contentamento em supensão; SER é coisa que transborda pela boca e escorre ENTRE (a)braços. A parada do carrinho entre a subida e a queda da montanha russa - força de vida; gostei da imagem que articulou os últimos desatinos a Galeano, vejam:
"Não nos provoca riso o amor quando chega ao mais profundo de sua viagem, ao mais alto de seu vôo: no mais profundo, no mais alto, nos arranca gemidos e suspiros, vozes de dor, embora seja dor jubilosa, e pensando bem não há nada de estranho nisso, porque nascer é uma alegria que dói. Pequena morte, chamam na França a culminação do abraço, que ao quebrar-nos faz por juntar-nos, e perdendo-nos faz por nos encontrar e acabando conosco nos principia. Pequena morte, dizem; mas grande, muito grande haverá de ser, se ao nos matar nos nasce."
Ainda não aprendi a exata medida de mim. Quantas mortes, desertos, saudades, horizontes, abraços e alegrias serão necessários para acolher o modo de vida que me habita? Nem saúde, ou delírio de comunicação, a vida é coisa de se degustar no tempo e movimento possível. Existir - arte incorrigível! é só disso que se trata.

Um comentário:
lindos textos. linda parceria de marinheiras com nossas próprias viagens.
mucho gusto
buena onda..
besitos
bel
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