domingo, 3 de fevereiro de 2013

Diário de livramento | ou | Regressando





Ela me diz de cyborgs, da retina, do cosmo, do turquesa dos azuis, da caminhada do amor que se aprende no caminho, nos avessos e no corpo. Conta do sonho de vitrola, dos vendavais e frescores da alma que acolhe e inventa o convívio.
Nos passos, ela carrega o olhar, desejo solar de registrar o chão de estrelas, olhos atentos e palavras, como aprendeu na antiga canção.
Outro dia, mesmo a conversa acontecendo na sala, a prosa foi de mulheres negras na cozinha. E as cores da tarde nos segredou que casa boa é aquela onde se bebe na mesa, se come onde quer, se dança na rua e se ama na vida, amizade querida.
Palavras vividas no sonho, na pele: Tessituras do que foi desejo – e é agora livramento e beleza- engravidando o mundo, nos curando das vertigens dos tempos.
Ela chama de edição de vídeos, mas eu acho que a lembrança reinventada na artesania do hoje, é a intratável delicadeza do seu ofício. Que derrama para os olhos, instantes em que se pode demorar todos os dias, vida-a-vida. Pequena cicatriz de quem vive, marca que registra o vivido e estende o horizonte: diário de imagens.
Hoje pela sua retina cheguei  num lugar estranho, sabido-aconchego, trabalho, morada-vertical. Vista onde tudo se faz de pedra, peito e céu. E meus olhos em vez de pousar nas nuvens, percorreram encontros inteiros para que enfim eu pudesse chegar em casa. E aqui do alto do encontro, do pequeno que é ser uma, entendi que sentir é dentro da pele, mas a gente se faz mesmo é com o fora, e que o outro é o modo mais vivo de se chegar em si, em mim, corpo-morada, casa-abrigo.

É verdade, ela nunca me buscou no aceno ou nas juras de carinho, mas sempre quando distraída me encontrava no teu olhar, sem nunca me pedir nada. E juntas, sob o argumento do encontro e fotografia, giramos demoradamente do negro para o branco e nos contamos que a vida é coisa que insiste em nascer a cada instante, a cada click

E ao contrário de quem leva algo, só me deu margem e me devolveu uma coragem: a de pousar o olhar nas coisas pequenas, nas matérias passageiras, tornando-as vivas e reais, como diz-se da duração, da imagem, da palavra e dos amores.
Nessa chegada em casa, vi pelas tuas lentes - olhar que liberta -  um corredor, o verde das plantas, o reflexo na fechadura, o vermelho do vestido e na abertura da porta, meu peito entoava para eu não esquecer: A que filma e a que escreve já não são as mesmas que sairam, ressonância do que vive, do que encontra. Sonhar com o que não serve para nada, é como simplismente caminhar. Serve para nos livrarmos da anestesia do que funciona para tudo, cintilantes desejos a alongar os horizontes. E a palavra e a imagem? servem apenas pra contar os incabíveis, invenções do viver, alinhavo dos dias, tecidos dia-ria-men-te e agora, e agora, e agora, longe daqui, ou mais tarde.

 

Para ver: Diário de Imagens
Para ouvir: Junio Barreto - Noturna
Para ler: longe daqui ou mais tarde 

Um comentário:

Ziguezagueclinica disse...

Uau!! sem palavras..só usufruir. Zem