Casa: Habitação, morada, vivenda, lar; na roupa - buraco por onde passa o botão; matematicamente - realiza divisões decimais; na metrópole - coméias urbanas endereçadas por avenida, cep e número, nem sempre oficiais, com teto ou paredes, pode ser na rua mesmo; na vida - quintal do corpo; no desejo - lugar de encontrar (se).
Na conjulgalidade a casa vira verbo e estado civil, mania humana de tirar o movimento da palavra. Quem mora junto, casou e é casado. Aqui da minha janela pode ser de sapê, de pedaços de calçadas, um corpo sobre outro, uma iglú de lona, um cobertor sobre a pele, em endereço inexpecífico, embaixo do viaduto, no calor de um abraço, quando o quente da lágrima aquece o rosto, na linha onde se escreve: cintilante... desde que haja prenhez de sentido, vida pulsante.
Não canso de me espantar com a habilidade das crianças ao nos desensinar os dias, a reaprender a vida. Dia destes minha sobrinha me contou um segredo banguela: que a boca é a casa dos dentes e o corpo a da alma.
O ensinamento foi matéria prima de uma outra sintaxe. Dançar é um jeito de casar, muda o ritmo do corpo; um jeito de falar claro, limpa a sala; uma literatura depravada desloca os móveis do sabido lugar; um amor faz o chão rodar nos pés; inventar coragens é viga de outro sorriso; viajar varre a poeira do conhecido; trocar o caminho inaugura tempos; ousar outros encontros cria chão de nome confiança; é a escrita virando varanda nas noites de inverno.
O ensinamento foi matéria prima de uma outra sintaxe. Dançar é um jeito de casar, muda o ritmo do corpo; um jeito de falar claro, limpa a sala; uma literatura depravada desloca os móveis do sabido lugar; um amor faz o chão rodar nos pés; inventar coragens é viga de outro sorriso; viajar varre a poeira do conhecido; trocar o caminho inaugura tempos; ousar outros encontros cria chão de nome confiança; é a escrita virando varanda nas noites de inverno.
Ao me separarar, regresso ao corpo, morada é onde nos juntamos. O que era rasgo virou poros. Vidas inteiras me atravessam, pensava que eu era elas, mas não, somos o percurso-tempo para que enfim cheguemos em casa: corpo-abrigo. Aqui, retornar é se aprumar no inédito, sozinhes acompanhada. Cuidar do espaço tem inaugurado tempos, materná-los é ser amiga das minhas idades e horas, avizinhar-me de uma vida que me caiba.
Hoje no amanhecer dos olhos a voz de dentro anunciou assim: ô de casa!!! como quem acena-bom dia! Descobri que mais que endereço, ela tem sentido de vida macia, pulsão que acolhe.
Para o espanto de mim: Acho que estou casa(ndo)!
O tempo é o meu lugar
O tempo é minha casa
A casa é onde quero estar
Retrato: pelas janelas do meu apaixonamento.Modelo: Thalita-sobrinha, bichinho-criança, disparador de afetos e palavras.Música: Ilusão da Casa - por Vitor Ramil.
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